Tuesday, February 14, 2012

Patagonia I – Ushuaia: Terra do Fogo



Estou de volta de um velho sonho realizado: conhecer a Patagônia.
Tinha a minha disposição cerca de 20 dias de férias para fazer uma viagem para este canto do planeta que atrai tanta gente.
Não somente em tempos modernos quanto em tempos mais remotos.
Nomes como Fernão de Magalhães, James Cook, Charles Darwin, Fitz Roy, Francis Drake.
Sem contar a saga dos primeiros exploradores a alcançar a Antártida, como Scott, Amundsen e Shackleton.
Tive que fazer a viagem sozinho, visto que tinha datas precisas e de ultima hora não conseguiria convencer ninguém, até porque eu estava prevendo fazer bastante trekkings.
Organizei a viagem em 4 lugares distintos: Ushuaia, El Calafate, El Chaltén e Puerto Natales (Torres Del Paine). As 3 primeiras cidades na Argentina e a ultima no Chile.



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Depois de um longo vôo de Roma a Buenos Aires, espero ainda um pouco mais para seguir diretamente a Ushuaia e tentar aproveitar a tarde, embora estivesse cansado.
Cheguei  lá pelas 14hs, o tempo estava horrível, com uma garoa fina caindo. Tinha reservado um B&B chamado La Maison, e a dona, Solange, muito simpática e disponível me deu muitas dicas de passeios e agencias, me ajudando bastante.
Não teria muita coisa para fazer  naquela tarde , então decidi passear pela cidade e inclusive comprar algum material que seria necessário, como bastões de caminhada e anorak. Os preços não eram baixos como eu esperava de uma zona franca, mas eram bons.
Terminei  o dia com um jantar, caro, mas merecido. Comi a tal da centolla (king crab ou caranguejo gigante) como entrada e de prato principal a merluza negra, que realmente estava excepcional. Tudo regado com um ótimo vinho argentino.
No dia seguinte teria uma excursão no parque nacional da Terra de Fogo, que duraria o dia inteiro.
Pela manhã o pessoal da agencia me busca e vamos para o parque. Inicialmente uma caminhada de 3 a 4 horas pelo parque, de inicio estava frio, mas depois o tempo melhora e a paisagem é bastante impressionante, com vistas a lagunas baías muito bonitas. A trilha inicia na baia Ensenada, terminando no setor da baia Lapataia. Claro, tudo isso no famoso Canal de Beagle.








Após a caminhada fizemos um almoço num acampamento, onde os guias prepararam um frango na grelha. No grupo tinha um chileno que era um tanto estranho e meio ‘mala’, imaginem que ele disse que não tomava vinho em copo de plástico e então se apoderou de uma garrafa para beber no gargalo...
Terminado o almoço fomos para o passeio de canoas, onde teríamos que remar pelo rio Lapataia e terminar fazendo inclusive uma passada no canal de Beagle.
Cada canoa teria 4 pessoas, com um líder em cada canoa. O guia (que se chamava Franco, como meu pai e meu irmão) pediu voluntários para os comandantes de cada canoa. O chileno ‘mala’ se apresentou em primeiro lugar porque dizia que sabia remar...
Por azar acabei caindo com ele e o filho no barco mais um casal argentino. Não precisa dizer que foi um desastre, o cara tinha que dar a direção ao barco e fazia tudo completamente errado e não conseguíamos seguir os outros barcos, até que em certo ponto fiquei irritado e ele finalmente pediu para alguém assumir o leme, como eu estava mais próximo fui para a popa. Não era tão simples quanto parecia, mas depois de um tempo se acostuma e o passeio melhorou sensivelmente.










Finalmente atravessamos parte do canal de Beagle com um vento fortíssimo, mas tudo acabou bem e voltamos a terra para a foto onde termina a famosa estrada que corta todas as Americas, do Alaska a Terra do Fogo.
Voltando a cidade, ainda tive tempo para visitar o famoso museu do presídio. Na verdade o presídio foi um modo do governo argentino usou para fazer crescer a cidade para obter a soberania do local, já que na região já estavam missionários ingleses, como a família Bridges. Muito interessante o museu, no prédio do presídio desativado.
No dia seguinte tinha a reserva para uma das coisas loucas que eu tinha planejado: mergulhar nas águas frias do canal de Beagle e tentar avistar alguma foca.
Chego no Diving Center e um senhor simpático chamado Carlos me recebeu. Seria ele o instrutor. Havia somente um outro rapaz argentino para o mergulho.
As instruções para o traje seco são bem diferentes das roupas usuais de mergulho. Primeiro tivemos que colocar roupas quentes, pile, ceroula e meias grossas para não passar frio. Isso tudo porque o traje não entra água. Tem 5 mm e na verdade a flutuação é feita inflando ele com ar. O que o torna mais quente.
Pegamos um bote com motor de popa pequeno. Ai começa a aventura, pois atravessamos parte do canal de Beagle, com um vento forte e ondas grandes... Tive que colocar a mascara porque a água do mar respingava abundante nos nossos rostos.
Enfim chegamos a uma prainha, onde Carlos nos dá dicas. Infelizmente a visibilidade é pouca, pois nessa época do ano tem muito plâncton. Estava de 5 a 10 metros no máximo.  Detalhe curioso, Carlos pega uma centolla e a coloca na minha mão para uma foto, de repente sinto uma dor no meu dedo mindinho e vejo que o caranguejo estava com uma de suas pinças nele. A sorte é que estava com uma bela luva de neoprene.
A fauna visível era pouca: caranguejos (gigantes, aranha), estrelas marinhas azuis, e outros crustáceos. Além disso, o que impressionou bastante foi a floresta de algas gigantes.  Já no segundo mergulho a visibilidade estava maior e aproveitei mais por estar um pouco mais acostumado com o traje. Mergulhamos a uma profundidade máxima de 17 metros a uma temperatura de água de 7 graus!
No final Carlos nos contou que era ex-piloto de caça... E que estava na ativa na época da guerra das Malvinas! Saindo do barco, no porto estava ancorado um veleiro bastante especial para nós brasileiros, o Paratii-2, barco que foi usado por Amyr Klink para uma de suas viagens pela Antártida.










Voltei à cidade para um almoço no simpático bar Ramos Generales. No inicio da tarde, sem muito que fazer decidi caminhar numa praia próximo ao aeroporto. A tarde estava muito bonita, apesar do vento frio. Uma caminhada solitária, mas muito legal ver os diversos tipos de pássaros (incluindo uma gaivota que comia um polvo...).
No dia seguinte o passeio era a visita a estância Haberton e a famosa pinguineira. Eramos somente dois turistas, eu e mais uma moça de Buenos Aires, assim que o passeio foi bastante agradável.
O dono e guia era um francês radicado na Argentina. Passamos por vários locais:

  • Valle Carbajal, um glaciar pequeno (onde se via uma nuvem de fumaça por incêndio)
  • Pequenos santuários (onde as pessoas deixam velas e ex-votos), onde o mais curioso era do Gauchito Gil, uma espécie de santo na crença popular.
  • Lago Victoria, onde se viam as castoreiras





Almoçamos em sua casa de campo, de frente para o canal de Beagle. Chegando ali, uma raposa passeava tranquilamente no jardim. Fizemos uma pequena caminhada até chegar numa castoreira, onde se podia ver as tocas e diques feitos por esses animais, que foram introduzidos na área pelo homem.
A estância Haberton, de propriedade dos Bridges, que foram os primeiros colonizadores (ingleses) da região (1863) e que ainda está nas mãos de seus descendentes.
Após a visita a estância embarquei para uma caminhada na Isla Martillo, para ver os pingüins de perto. Não precisa dizer que a sensação é incrível. Nessa ilha existem dois tipos de espécie: os Magalhanicos e os Papua. Muitos ninhos, com filhotes sendo protegidos de aves pelos pais.
No último dia de visita a Ushuaia fiz a navegação pelo canal de Beagle. O vento estava bem forte e as águas agitadas, mas conseguimos ver as incríveis colônias de cormorões imperiais, lobos-marinhos, focas. E chegar ao famoso farol do fim do mundo citado no livro de Julio Verne.











No retorno e antes de partir para El Calafate passei no museu Yamana. Um pequeno e muito interessante museu sobre as diversas etnias que habitavam a terra do fogo desde 10000 anos. Raças como os Ona, Yamana, estes últimos que viviam nus, protegidos com gordura de foca. E que foram dizimadas por vários motivos, como as doenças dos homens europeus.
Assim terminava a primeira parte da aventura patagônica.

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