Thursday, April 28, 2005

Viagem à Sicilia

E aqui vai o meu primeiro Blog!
É uma coisa louca esse mudo informático, mas devo dizer que é muito interessante poder bancar o repórter ou compartilhar idéias com o 'mundo'.
No fim de semana passado (feriado na segunda, aqui na Itália) decidi fazer uma viagem com um colega para conhecer um local que há muito me atraía: a Sicilia.
Na verdade o que eu gostaria de comentar aqui é o contraste de uma beleza estupenda com uma grande pobreza e falta de organização, tão conhecida por nós da terra brasilis.
Acho que a primeira coisa que os meus amigos poderiam dizer seria: 'Poxa, o Alexandre é um cara de muita sorte, viajar para esses lugares, Europa, tudo organizado, etc...'
Claro que por um lado é um privilégio estar por aqui, por outro, tenho que admitir que o que eu pensava de um país europeu está bem longe da minha expectativa.
Diria também que eu sou muito crítico nesse ponto, aliás era muito exigente inclusive com o Brasil, mas vou deixar de rodeios e começar a contar um pouco da aventura.
Tudo começa com um voô low-cost Roma-Catania, apenas um pequeno atraso de quase 2 horas ... Sem contar a falta de informação no aeroporto de Fiumicino (Roma) deixa você esperando sem saber o que está acontecendo.
Chegando a Catania, o aeroporto já me fez lembrar coisas do Brasil, pequenino, reformando e aquela bagunça!! Para pegar o carro que alugamos, uma balconista muito 'delicada' nos atendeu. Parecia aqueles dias de cão, depois um incrível problema para chegar ao hotel: ruas e estradas completamente mal indicadas e uma coisa terrível: o pior estilo de motorista que já vi por aqui na Itália.
Mas aqui começa um pouco do contraste que eu dizia antes, num certo ponto em uma rua, perguntamos a um rapaz num fiat se ele conhecia o endereço do nosso hotel. Para minha surpresa, ele disse que sim e que nos acompanharia até lá. Imagina, isso no Brasil seria completamente loucura, primeiro porque ninguém se disporia a fazer tal coisa e se fizesse certamente eu acreditaria que seria qualquer delinquente querendo me assaltar.
Depois de perder quase meio dia nessa brincadeira (Catania é a 1h de voô de Roma) começamos a relaxar. Pegamos o carro e fomos a algumas localidades e praia perto.
Já se podia ver o Etna, imponente e mágico. É o maior vulcão da Europa e chega a 3300 metros de altitude.
Visitamos 'paesinos', como se chamam aqui os pequenos vilarejos. Acicastello, Acireale, Acitrezza. Promontórios com praias escavadas em pedras vulcanicas. Numa dessas vilas, um senhor na porta de uma casa vestido com paletó e gravata e um relógio de bolso com a corrente pendurada no colete me deixou impressionado, era como se o tempo tivesse parado por ali no século 19.
Águas de uma cor maravilhosa, de fazer inveja a qualquer praia do Brasil. Decidimos seguir mais adiante pela costa e tentar chegar até Taormina, outro ponto fabuloso, que eu já conhecia do filme 'Imensidão Azul' (conta a vida do mergulhador Jacques Mayol).
Porém, mais um daqueles contrastes frustou nossos planos pelo menos nesse dia. Para chegar lá teríamos que atravessar esses vilarejos de carro (eram apenas uns 15kms...). Tentamos, mas depois de mais de uma hora parados no trânsito, quando chegamos era tarde demais, estava no final do dia e decidimos retornar depois.
No dia seguinte vistamos Siracusa, famosa cidade natal de Arquimedes, sim, aquele mesmo do 'Eureka'. Uma bela praia, mas infelizmente com construções horríveis ao longo dela. O especial da cidade é Neapolis, com um teatro grego muito bonito.
No penúltimo dia fomos finalmente a Giardini di Naxos, Taormina e Castelmola. A primeira é uma localidade de praia lindíssima, pelo menos o mar, de resto, nada que não seja igual ao litoral norte de São Paulo. No sentido de bares e restaurantes na orla.
Finalmente Taormina, sim, tem algo de muito diferente de nós, são aqueles vilarejos que ficam num topo de uma pequena montanha, com vias estreitas e cheias de negócios. Uma vista maravilhosa e um teatro grego com vista para a baía e para o Etna. Espetacular! Mas mais um dos contrastes: nem dava para caminhar de tanta gente...
Nas noitadas conhecemos Catania, uma cidade muito interessante, que identifiquei muito com o que a gente tem por aí. Uma cidade com prédios antigos, barrocos, caindo aos pedaços, becos, ruas sujas e um pequeno caos. E mais, pela primeira vez escutei de um italiano que certas áreas da cidade eram bem perigosas. Me fez lembrar da nossa paranóia com a segurança.
Incrível é uma rua da cidade onde tem açougues que vendem carne de cavalo e na calçada preparam polpetas e bifes de cavalo em mini-churrasqueiras ao ar livre... Me fez lembrar do famoso churrasquinho de gato, guardada as devidas proporções, claro.
E no último dia fizemos um passeio ao Etna, isso mesmo, fomos até mais ou menos 2000 metros e cheguei mesmo a entrar em uma cratera extinta... Mas o mais incrível foi entrar num túnel debaixo de um rio de lava, formado pelo gás expelido por ela. Me senti como na 'Viagem ao Centro da Terra', de Julio Verne.
Para não me alongar muito, outra coisa especial da Sicilia é a gastronomia, principalmente os doces a base de amêndoas e alguns a base de ricota (a tal da cassata siciliana é uma delícia!). Uma curiosidade, o vinho de amêndoas é uma espécie de licor para acompanhar doces, não precisa nem falar se é bom ou não!!
Agora a conclusão de toda essa história: muitas vezes fui muito crítico com o Brasil, o modo como tratamos o turismo e uma certa falta de 'civilização'. Tudo bem, isso acontece muito por aí, mas por aqui a coisa também não é perfeita, aliás eu nem tinha a pretensão de que seria. Mas muitas vezes penso que onde estou me deu uma certa desilusão.
Digo isso inclusive como aviso aos navegantes, que de repente gostariam de se aventurar por uma vida aqui na Europa, nem sempre é o sonho que se espera. Como também diria que não podemos com isso dizer que o Brasil é o melhor país do mundo. Hoje posso dizer tranquilamente que cada povo tem a sua cultura e a sua própria maneira de ser. Pode parecer óbvio, mas acho que para fazer a ficha cair, tem que vivenciar isso.
Abraços a todos
Alexandre Calderaro